TRABALHOS ACADÊMICOS - COMO FAZER?

11/03/2016 21:06

 

Como fazer uma resenha


Todo mundo que frequenta o blog está acostumado a ler várias resenhas toda semana, mas afinal, o que é e o que precisamos saber para escrever um texto desse tipo?

Como um gênero textual, uma resenha nada mais é do que um texto em forma de síntese que expressa a opinião do autor sobre um determinado fato cultural, que pode ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, shows etc.

O objetivo da resenha é guiar o leitor pelo emaranhado da produção cultural que cresce a cada dia e que tende a confundir até os mais familiarizados com todo esse conteúdo.
Como uma síntese, a resenha  deve ir direto ao ponto, mesclando momentos de pura descrição com momentos de crítica direta. O resenhista que conseguir equilibrar perfeitamente esses dois pontos terá escrito a resenha ideal.

No entanto, sendo um gênero necessariamente breve, é perigoso recorrermos ao erro de sermos superficiais demais. Nosso texto precisa mostrar ao leitor as principais características do fato cultural, sejam elas boas ou ruins, mas sem esquecer de argumentar em determinados pontos e nunca usar expressões como “Eu gostei” ou “Eu não gostei”.

Tipos de Resenha


Até agora eu falei sobre as resenhas de uma forma geral e livre e esses dados são suficientes para você já esboçar alguns parágrafos.

Contudo, as resenhas apresentam algumas divisões que vale destacar. A mais conhecida delas é a resenha acadêmica, que apresenta moldes bastante rígidos, responsáveis pela padronização dos textos científicos. Ela, por sua vez, também se subdivide em resenha críticaresenha descritiva e resenha temática.

Na resenha acadêmica crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal para uma produção completa:

1.       Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;

2.       Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;

3.       Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;

4.       Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;

5.       Analise de forma crítica: Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião. Argumente baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até mesmo utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.

6.       Recomende a obra: Você já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de analisar para quem o texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.

7.       Identifique o autor: Cuidado! Aqui você fala quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor da resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do escritor ou pesquisador.

8.       Assine e identifique-se: Agora sim. No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”

Na resenha acadêmica descritiva, os passos são exatamente os mesmos, excluindo-se o passo de número 5.

Como o próprio nome já diz, a resenha descritiva apenas descreve, não expõe a opinião o resenhista.
Finalmente, na resenha temática, você fala de vários textos que tenham um assunto (tema) em comum. Os passos são um pouco mais simples:

1.       Apresente o tema: Diga ao leitor qual é o assunto principal dos textos que serão tratados e o motivo por você ter escolhido esse assunto;

2.       Resuma os textos: Utilize um parágrafo para cada texto, diga logo no início quem é o autor e explique o que ele diz sobre aquele assunto;

3.       Conclua: Você acabou de explicar cada um dos textos, agora é sua vez de opinar e tentar chegar a uma conclusão sobre o tema tratado;

4.       Mostre as fontes: Coloque as referências Bibliográficas de cada um dos textos que você usou;

5.       Assine e identifique-se: Coloque seu nome e uma breve descrição do tipo “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”.

Conclusão

Fazer uma resenha parece muito fácil à primeira vista, mas devemos tomar muito cuidado, pois dependendo do lugar, resenhistas podem fazer um livro mofar nas prateleiras ou transformar um filme em um verdadeiro fracasso.

As resenhas são ainda, além de um ótimo guia para os apreciadores da arte em geral, uma ferramenta essencial para acadêmicos que precisam selecionar quantidades enormes de conteúdo em um tempo relativamente pequeno.

Agora é questão de colocar a mão na massa e começar a produzir suas próprias resenhas!

Como fazer um resumo?

Tenho notado nos alunos universitários uma dificuldade incrível em sintetizar ideias, isto é, em fazer resumos.

O fato é que esse tipo de atividade raramente é explicada na escola, quando muito solicitada, por isso os alunos chegam à faculdade sem a menor noção sobre como extrair as idéias principais de um texto.

Antes de mais nada, vale dizer que um resumo nada mais é do que um texto reduzido a seus tópicos principais, sem a presença de comentários ou julgamentos. Um resumo não é uma crítica, assim como a resenha o é; o objetivo do resumo é informar sobre o que é mais importante em determinado texto.
Para Platão e Fiorin (1995), resumir um texto significa condensá-lo a sua estrutura essencial sem perder de vista três elementos:

1.       as partes essenciais do texto;

2.       a progressão em que elas aparecem no texto;

3.       a correlação entre cada uma das partes.

Se o texto que estamos resumindo for do tipo narrativo, devemos prestar atenção aos elementos de causa e sequências de tempo; se for descritivo, nos aspectos visuais e espaciais; caso o texto for dissertativo, é bom cuidar da organização e construção das idéias.

Existem, segundo van Dijk & Kintsch (apud FONTANA, 1995, p.89), basicamente 3 técnicas que podem ser úteis ao escrevermos uma síntese. São elas o apagamento, ageneralização e a construção.

Apagamento

Como no nome já diz, o apagamento consiste em apagar, em cortar as partes que são desnecessárias. Geralmente essas partes são os adjetivos e os advérbios, ou frases equivalentes a eles. Vamos ver um exemplo.

O velho jardineiro trabalhava muito bem. Ele arrumava muitos jardins diariamente.

Sendo essa a frase a ser resumida através do apagamento, poderia ficar assim:

O jardineiro trabalhava bem.

Cortamos os adjetivo “velho” e o advérbio “muito” na primeira frase e eliminamos a segunda. Ora, se o jardineiro trabalhava bem, é porque arrumava jardins; a segunda informação é redundante.

Generalização

A generalização é uma estratégia que consiste em reduzir os elementos da frase através do critério semântico, ou seja, do significado. Exemplo:

Pedro comeu picanhacostelaalcatra e coração no almoço.

As palavras em destaque são carnes. Então, o resumo da frase fica:

Pedro comeu carne no almoço.

Construção

A técnica da construção consiste em substituir uma sequência de fatos ou proposições por uma única, que possa ser presumida a partir delas, também baseando-se no significado. Exemplo:

Maria comprou farinha, ovos e leite. Foi para casa, ligou a batedeira, misturou os ingredientes e colocou-os no forno.

Todas essas ações praticadas por Maria nos remetem a uma síntese:

Maria fez um bolo.

Além dessas três, ainda existe uma quarta dica que pode ajudar muito a resumir um texto. É a técnica de sublinhar.

Enquanto você estiver lendo o texto, sublinhe as palavras ou frases que fazem mais sentido, que expressam ideias que tenham mais importância. Depois, junte seus sublinhados, formando um texto a partir deles e aplique as três primeiras técnicas.

Como fazer uma síntese, de Maria Almira Soares

Como leitura adicional, eu sempre recomendo o excelente livro de Maria Almira Soares, que se dedica exclusivamente a dotar o aluno de ferramentas teórico-práticas, úteis à elaboração de uma síntese ou resumo.

Desde a primeira leitura geral do texto até as técnicas de simplificação, articulação e reformulação do discurso, a autora reúne aqui um conjunto de etapas a serem acompanhadas pelo estudante. Trechos de textos literários e jornalísticos dão corpo a uma gama de exercícios de aplicação, indispensáveis à consolidação dos saberes nos domínios da escrita, da leitura e do funcionamento da língua.

Fontes:

Prática Textual: atividades de leitura e escrita / Vanilda Salton Köche, Odete Benetti Boff, Cinara Ferreira Pavani. — Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
Estratégias Eficazes para resumir. Chronos – Produção de textos científicos no ensino da língua portuguesa / Niura Maria Fontana. — Caxias do Sul: UCS, n.1, p.84-98, 1995.
Para entender o texto: leitura e redação / José Luiz Fiorin, Francisco Platão. — 10.ed. São Paulo: Ática, 1995.
 

Como fazer um relatório?

 

Como um trabalho muito solicitado em universidades, principalmente para alunos de estágio, o relatório é um tipo de texto que deve informar, de modo ordenado, todos os acontecimentos dentro de um determinado período de tempo. No texto a seguir você vai aprender como fazer um relatório.

Existem basicamente dois tipos de relatórios, o acadêmico e o profissional, os dois obedecem normas e possuem o mesmo objetivo final: relatar o desenvolvimento de um trabalho ou de uma pesquisa, informando e quantificando os seus resultados de forma clara e pormenorizada.

Como fazer um relatório

Todos os tipos de relatório devem ser produzidos tendo como base o resultado de uma atividade ou pesquisa. Portanto, é preciso material de apoio para o seu desenvolvimento, sendo importante que, enquanto estiver realizando a ação objeto do futuro relatório, pesquisa, trabalho, estágio, etc., vá fazendo anotações de todos os pontos relevantes que encontrar e que lhe chamarem a atenção. Essa dica vale para o relatório sobre um livro, o relatório de estágio, de uma pesquisa ou de uma atividade qualquer. Anotar os pontos relevantes, dúvidas, pormenores, personagens principais, curiosidades e outros pontos que puderem ser aproveitados na elaboração do documento final. As notas mais simples podem ser importantes ao fazer o relatório, e tudo que não for usado pode ser descartado, então anote tudo que achar relevante ou interessante.

Assim como qualquer outro trabalho acadêmico  ou documento, o relatório precisa necessariamente ter objetivos bem definidos e deve ser dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. O título deve ser simples e vir seguido da identificação (nome, turma ou departamento).

Na introdução do relatório deve constar resumidamente todo o conteúdo do mesmo, junto com os objetivos, a abrangência da pesquisa ou trabalho que resultou o relatório e a metodologia utilizada. No desenvolvimento devem constar os dados, depoimentos e estatísticas que podem ser organizados em textos, utilizando também gráficos e tabelas para enriquecer e dar consistência ao seu trabalho.

O relatório, diferente dos demais trabalhos e documentos, não tem o objetivo de argumentar, mas sim de relatar dados ou informações coletadas ou observadas. A conclusão deve trazer o fecho de todos os dados apresentados.

A redação do relatório deve usar uma linguagem formal e técnica quando necessário, contudo deve ser clara e concisa. Prefira a ordem direta e evite erros gramaticais.ZFazer um relatório implica comunicar fatos, resultados, sendo imprescindível que você atinja ao menos esses objetivos básicos.

 

Como escrever um artigo acadêmico?

Ao longo do curso de Letras e de muitos outros cursos universitários, são solicitados textos de um formato bastante específico, nos quais o aluno deve elaborar e defender uma ideia sobre determinado assunto analisando diversas facetas envolvidas e pesquisando na literatura já existente sobre o tema.
 É o temido artigo acadêmico.

Por ser um tipo de texto bastante diferente do que somos apresentados na escola, muitos acabam entrando em pânico na primeira vez que precisam escrevê-lo, o que tem levado a trabalhos finais pobres, de estrutura fragmentada, com sintaxe horripilante e com pouca ou nenhuma argumentação sólida.

·           Leia um quadro comparativo com as diferenças entre escola e faculdade.

Esse é um problema sério, pois é através desse tipo de publicação que as ciências evoluem. Foi com os artigos acadêmicos que surgiram pela primeira vez estudos e teorias geniais que deram origem a uma grande parte do mundo que conhecemos hoje.

Se você é um desses marinheiros de primeira viagem que não sabem como começar a elaborar um artigo, leia as dicas abaixo que vão guiá-lo na escrita de seu primeiro texto científico.

O seu primeiro artigo científico

A primeira coisa a reconhecer é que existem diversos estilos de escrita, usados para diferentes propósitos. Mesmo em um contexto isolado de escrita de uma carta, você será capaz de diferenciar um texto endereçado para sua avó de outro para algum colega de classe. É provável que no primeiro seja usado um estilo mais formal, com verbos e palavras amenas.

Artigos acadêmicos também precisam de atenção quanto ao estilo. Entender alguns conceitos básicos vai ajudá-lo no processo.

1.       Conheça as diferenças entre o estilo informal, jornalístico e acadêmico. Para isso, você precisa ler textos em que esses estilos apareçam. Resumidamente, a escrita acadêmica é impessoal, a jornalística pretende chamar a atenção do leitor, e a informal usa linguagem coloquial (gírias, abreviações, etc).

2.       Familiarize-se com o conceito de nominalização. Esse é um recurso usado com o propósito de eliminar palavras em excesso e tornar a escrita mais objetiva. Nominalizar é transformar um verbo em um nome para remeter a algo já dito anteriormente. Por exemplo: Armando se casou no final de 2006. O casamento, entretanto, não durou muito.

3.       Aprenda a diferença entre voz passiva e voz ativa. A definição mais simples de voz passiva é: tornar o sujeito de uma sentença o objeto de uma ação. A voz ativa, por outro lado, tem um sujeito que pratica a ação sobre o objeto.

4.       Leia artigos acadêmicos sobre o assunto que você vai escrever e preste atenção quanto ao uso da voz passiva. Esse tipo de escrita é bastante usado no meio acadêmico, porém não deve haver exageros. Algumas áreas a usam menos que outras.

5.       Lembre-se de consultar as normas técnicas da ABNT para formatar seu artigo de forma adequada. Alguns professores dão tanta importância a isso quanto dão ao texto em si. Se você pretende publicar o texto em alguma revista especializada, lembre-se de consultar a folha de estilos da mesma.

6.       Preste especial atenção às citações, notas de rodapé e referências bibliográficas. Plágio é a pior coisa que pode acontecer em relação a um texto desse tipo. Não pense que citar alguém vai desmerecer seu texto, pelo contrário, citações servem para dar mais força aos seus argumentos. Aprenda como escrever argumentos fortes.

7.       Leia e releia quantas vezes for necessário para ELIMINAR erros de gramática. Eles são inaceitáveis em artigos acadêmicos.

8.       Cuidado com a pontuação, é ela que vai dar o tom ao seu texto e permitir que o leitor o entendenda. Leia meu guia definitivo de como usar a vírgula.

Estrutura do artigo acadêmico

Além das questões de estilo, um artigo também deve seguir uma estrutura pré-definida, que é a que segue:

·           Título, que deve estar estritamente relacionado ao conteúdo e permitir ao leitor ter uma ideia geral sobre o que trata o texto.

·           Resumo, que costuma ser de 4 a 6 linhas, destacando objetivos, métodos e conclusões. Em alguns casos, é preciso o resumo em inglês (Abstract) ou espanhol. Aprenda como fazer um resumo.

·           Palavras-chave, geralmente 3 palavras que definam a abrangência do tema tratado no texto. Em alguns casos, também é preciso a versão em inglês (Keywords) ou espanhol.

·           Corpo do artigo, dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão (mas não se usam títulos para isso)

·           Referências bibliográficas, em ordem alfabética e conforme as normas da ABNT.

Modelo de artigo acadêmico

Após essas dicas, você pode ter uma ideia de como é um artigo pronto pesquisando no Google Acadêmico sobre o tema que lhe interessa e lendo algum dos exemplos que aparecerem. Veja os artigos sobre literatura brasileira já publicados.

 

Como fazer um artigo de opinião

Existiu um tempo em que escrever artigos era um assunto restrito a escritores, jornalistas e universitários em fase de conclusão de seus cursos. Contudo, atualmente todos nós somos convidados a expressar nossas opiniões sobre assuntos polêmicos que são amplamente divulgados por meio de diversas mídias. Os artigos de opinião são um recurso usado largamente na internet, jornais e revistas. Nesse texto, você vai ler algumas dicas básicas que podem lhe auxiliar a escrever seu artigo de opinião e convencer um maior número de pessoas sobre seu ponto de vista.

Um artigo de opinião tem a intenção de convencer o leitor em relação a forma de pensar do autor do texto. Para isso é essencial que o redator conheça profundamente o tema sobre o qual versa e também as circunstâncias em que se deram tal fato, pois só assim poderá formular argumentos consistentes e defender a sua tese, ou seja, a sua opinião. Por isso, antes de escrever o seu, leia diferentes pontos de vista sobre o tema e anote os argumentos que lhe chamaram a atenção, eles podem ser úteis para você fundamentar o texto que irá desenvolver, seja apoiando e defendendo a mesma ideia ou refutando e apresentando outros argumentos nesse sentido.

Para quem vai escrever um texto de opinião, é importante ter em mente quem está do outro lado, quem está lendo seu texto. Escreva dirigindo-se ao seu leitor com uma linguagem adequada ao perfil dele, tentando manter um estilo formal, mas com palavras comuns.

Desenvolva os argumentos que anotou inicialmente de forma consistente, saiba de antemão qual a ideia que quer transmitir, por exemplo, se quer falar a favor de um sabão em pó, defina por que ele é bom, tenha argumentos sobre a sua eficiência, seu preço, seus ingredientes, sua ação na roupa, seus efeitos ambientais, etc. O mesmo com qualquer outro assunto, que pode ser desde o uso da energia nuclear até a segurança nas escolas, por exemplo, face a tragédia recente no Rio de Janeiro.

Um artigo de opinião, como qualquer outro texto que se produza, deve ter uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Na introdução devemos dizer claramente do que trata o texto, para logo em seguida, em outro parágrafo, passar ao seu desenvolvimento. Por fim, a conclusão, que pode ser definitiva ou então levar o leitor a refletir e chegar as suas próprias conclusões.

 

Como fazer um plano de aula

Se tem algo que eu aprendi no meu quinto semestre na faculdade de Letras foi fazerplanos de aula. Em pelo menos três das disciplinas, os trabalhos finais envolviam o planejamento utilizando a estrutura clássica Objetivos > Tópicos do Conhecimento > Cronograma de trabalho > Formas de Mediação > Recursos > Avaliação > Bibliografia.

Seguindo aquela ideia de sistematizar conhecimentos que andam espalhados e fragmentados pela web, esse artigo pretende detalhar todo o processo de elaboração de um plano de aula e algumas variações que podem ocorrer (dependendo da teoria pedagógica do orientador ou da universidade). No final do texto, está disponível para download, no formato PDF, um modelo de plano de aula feito por mim nesse semestre que passou, o qual vamos analisar ao longo desse artigo.
 

Para que um plano de aula?

Para quem, como eu, está iniciando sua prática pedagógica, é muito importante ter bem claro tudo que se pretende fazer durante uma aula. Ter um plano detalhado que registre seus objetivos, a matéria que será trabalhada, o material utilizado, o que será feito e quanto tempo vai levar proporciona uma organização que pode ser a diferença entre uma aula bem sucedida ou não. Eu mesmo já achei tudo isso uma besteira, mas percebi na prática como a falta dessa organização pode levar ao fracasso total.

Livros sobre planos de aula

Plano de Aula 5ª e 6ª SériesPlano de Aula 5ª e 6ª Séries

Plano de Aula 7ª e 8ª SériesPlano de Aula 7ª e 8ª Séries

Preparando Aulas: Manual prático para professoresPreparando Aulas: Manual prático para professores

Planos de aula de Português e Literatura

Os planos da área de Letras têm uma característica em comum que torna sua elaboração semelhante: eles costumam partir de um texto que o professor deseja trabalhar com a turma. A partir desse texto e dos temas que se desprendem dele, são buscados outros recursos — como músicas, vídeos ou imagens — a fim de tornar a proposta mais rica e atraente para os alunos.
Para exemplificar, vou usar um plano de aula que fez parte do meu relatório de estágio. Nesse plano, o objetivo era estudar um gênero literário com os alunos, sem, contudo, recorrer à velha história de passar uma lista de regras referentes a um determinado gênero (por exemplo, dizer simplesmente que o conto é uma narrativa curta composta por introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho).

Planejamento e seleção de material

Escolhi o gênero conto por ser um tipo de texto geralmente mais curto, leve e de rápida leitura — de nada adiantaria escolher um texto maravilhoso porém gigante, que os alunos passariam a aula inteira lendo. Além disso, bons contos costumam prender o leitor logo no primeiro parágrafo, coisa extremamente importante para alunos do ensino médio que costumam ter uma imagem negativa da leitura como sendo “chata”.
Escolhido o gênero, lembrei do autor que todo mundo gostava no meu tempo de escola: Luis Fernando Veríssimo. Instantaneamente lembrei do divertidíssimo conto Grande Edgar, que está no livro Mentiras que os Homens Contam, o qual transformamos em peça de teatro naquela época (eu atuei como o personagem principal, acreditem).

O próximo passo é analisar que temas podem ser abordados a partir desse texto. Na minha interpretação, vieram à tona assuntos como “como nos distanciamos de pessoas importantes ao longo da vida”, “como nos tornamos ‘apenas mais um’ aos olhos da sociedade”, “como nós mesmos não nos damos a devida importância”, etc.

Com os temas de trabalho definidos, agora é possível pesquisar materiais alternativos (no sentido audiovisual da palavra) que possam enriquecer a aula. Eu segui para o caminho da música, que, por geralmente ter letras que podem ser trabalhadas como poemas, acabam diversificando os tipos de textos trabalhados, mas nada impedia que imagens e/ou vídeos fossem utilizados. A música que escolhi foi Maior Abandonado, de Cazuza e Frejat (música e clip abaixo):

Com o material escolhido e definido, é hora de organizar tudo segundo aquela clássica estrutura acadêmica. Além disso, é preciso pensar em como desenvolver a aula a partir dessa base.

Escrevendo o plano de aula

Um plano de aula sempre começa traçando objetivos. Tais objetivos sempre devem começar por um verbo no infinitivo e, como regra geral, devem ter um “para que”, ou seja, a frase deve ser composta por duas sentenças. Assim:

Objetivo = Habilidade desenvolvida + qual a razão de desenvolver essa habilidade.

Um exemplo:

Expressar suas ideias e opiniões de forma oral e escrita para aprimorar sua capacidade comunicativa.

Eu disse que essa é uma regra geral pois alguns objetivos envolvem habilidades tão amplas que fica difícil (e até sem sentido) definirmos uma motivo para elas. Por exemplo:

Compreender e interpretar o texto e a música trabalhados.

Além disso, é importante lembrar que os objetivos de um plano de aula sempre referem-se às habilidades e competências que o aluno deverá desenvolver. Uma dica útil: ao elaborar seus objetivos tenha em mente a frase “Ao término da aula, o aluno deverá ser capaz de…”

·           Identificar o gênero conto.

·           Compreender e interpretar o texto e a música trabalhados.

·           Comparar as duas formas de abandono/distanciamento as quais o texto e a música referem-se para dar-se conta de que o valor individual das pessoas está cada vez menor em meio à multidão.

Existe uma briga terminológica que não acaba mais entre os pedagogos, então alguns preferem que os objetivos específicos sejam chamados de projeção de finalidades, mas isso não muda a forma como devem ser escritos.
Em seguida, é hora de definir o cronograma dos trabalhos. Aqui, basicamente, você deve escrever, de forma resumida, tudo que vai fazer durante a aula e fazer uma estimativa de quanto tempo vai levar cada passo. O meu ficou assim (assumindo que a aula seria de dois períodos de 50 min. cada):

1.       Apresentação da música Maior Abandonado, de Cazuza e Frejat (5 min.).

2.       Compreensão e interpretação da música de forma oral, tentando levantar assuntos que se relacionem com o tema do abandono/distanciamento entre pessoas, tratado no conto que virá a seguir (20 min.).

3.       Apresentação do conto Grande Edgar, assim como de seu autor, Luis Fernando Veríssimo (5 min.).

4.       Leitura silenciosa do conto (10 min.).

5.       Leitura expressiva do conto pelo professor (5 min.).

6.       Compreensão e interpretação do conto de forma oral, destacando temas como “como nos distanciamos de pessoas importantes ao longo da vida”, “como nos tornamos ‘apenas mais um’ aos olhos da sociedade”, “como nós mesmos não nos damos a devida importância”, etc. (25 min.).

7.       Análise do conto conforme as estruturas características do gênero (apresentação, complicação, clímax, desfecho) (15 min.).

8.       Escrita de um pequeno texto que responda a pergunta “Quem é o “maior abandonado do título da música?” (15 min.).

Terminado o cronograma, é hora de escrever a lista de Tópicos do Conhecimento (ou, com o nome antigo, Conteúdo Programático). Basicamente é uma lista de temas e assuntos estudados durante a aula. Referem-se a fatos, conceitos e princípios, procedimentos, atitudes, etc.

·           Leitura, análise e interpretação do conto Grande Edgar, de Luis Fernando Veríssimo.

·           Leitura, análise e interpretação da música Maior Abandonado, de Cazuza e Frejat.

·           Gênero conto.

·           Gênero letra de música.

Logo após, vem a parte mais trabalhosa do plano, que são as Formas de Mediação (ouProcedimentos, ou Operacionalização, ou qualquer outro nome que inventarem). Aqui devem ser detalhados todos os passos listados no cronograma. Escreve-se sobre ações, processos ou comportamentos que serão propostos pelo professor durante a aula, sempre baseando-se nos objetivos previstos.
A minha aula, por exemplo, eu separei em 3 momentos:

Primeiro Momento

Composta pela apresentação da música e por sua compreensão e interpretação. Algumas questões orais deverão guiar a discussão, tais como:

·           O que é um “maior abandonado”, citado no título da música?

·           Por que a música diz que “raspas e restos me interessam” (linhas 8 e 9), “mentiras sinceras me interessam” (linha 11)?

·           O que são “mentiras sinceras”?

·           Quem é o “tu” ao qual a música se refere?

·           A que se refere a passagem “pequenas porções de ilusão” (linha 10)?

·           Que tipo de proteção o “maior abandonado” deseja?

Segundo Momento

Apresentação do conto Grande Edgar, do livro de onde ele foi retirado, As mentiras que os homens contam, e do autor Luis Fernando Veríssimo. A obra pode passar de aluno em aluno para que seja manuseada e vista mais de perto. Caso houver exemplares na biblioteca, é importante que isso seja informado aos alunos.

Após é feita a leitura silenciosa pelos alunos e em seguida a leitura expressiva pelo professor. A compreensão e interpretação é feita de forma oral, guiada por questões como:

·           Já lhe aconteceu situações parecidas com a do conto? De que forma? Você esqueceu de alguém, ou alguém esqueceu quem você era?

·           Por que nos esquecemos tão facilmente dos outros?

·           Por que confundimos estranhos com pessoas conhecidas?

·           Por que o personagem “naturalmente” escolhe o caminho “menos racional e recomendável, que leva à tragédia e à ruína”?

·           Será que nós ou as outras pessoas são tão pouco importantes a ponto de sermos esquecidos? Será que nós nos damos a devida importância?

Terminada a discussão, é feita a entrega de um resumo teórico sobre o gênero conto, com um pouco sobre sua história, principais autores e características estruturais. O professor faz, junto com a turma, a análise do conto Grande Edgar conforme aquelas características (apresentação, complicação, clímax, desfecho).

Terceiro Momento

Feita a análise do gênero, faz-se a avaliação, que consiste na elaboração de um pequeno texto que responda questões como “Quem é o “maior abandonado do título da música?”, “Você conhece maiores abandonados como aquele do qual a música fala?”, “O que fazer para não virarmos maiores abandonados?”
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E com isso o plano de aula está praticamente feito. Faltam algumas coisinhas como osRecursos que serão utilizados, que são aqueles meios materiais ou humanos que fogem ao padrão de uma aula “comum”, ou seja, ninguém vai colocar que vai usar giz e quadro negro, mas aparelho de som, retroprojetor e outras coisas específicas, sim:

·           Aparelho de som

Finalmente chegamos ao item Avaliação, que, nas concepções mais recentes, costuma ser definida como um “processo contínuo e global com função de diagnosticar, acompanhar e avaliar” (daqueles textos sem referência bibliográfica que alguns professores distribuem na universidade). O importante é o seguinte: avaliação não é só prova. A minha, para essa aula, ficou assim:

Levará em conta a participação do aluno nas discussões e também o texto elaborado em aula, cujo tema permite que seja observado o entendimento do aluno perante os conteúdos apresentados.

E para terminar, obviamente, as Referências Bibliográficas do material utilizado na aula:

CAZUZA e FREJAT. Maior abandonado. Disponível em: . Acesso em: 22 abr. 2009.
GIARDELLI, Mempo. Assim se escreve um conto. Trad. De Charles Kiefer. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994.
JÚNIOR, R. Magalhães. A arte do conto: sua história, seus gêneros, sua técnica, seus mestres. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1972.
SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1997.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Grande Egar. In:__ As mentiras que os homens contam. São Paulo: Objetiva, 2000.